Apesar do aumento, a fila de espera nunca esteve tão grande. Saiba como reconhecer a maior causa de transplante para se livrar da cirurgia

A pandemia de coronavírus interrompeu o transplante e a captação de córnea várias vezes em 2020. Por isso, entre todos os tipos de transplantes foi o que sofreu a maior queda no Brasil conforme relatório da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). Os dados mostram que de 2019 para 2020, o País reduziu o número de transplantes de córnea em 56%, totalizando entre janeiro e setembro, 10.977 e 4.807 transplantes de córnea respectivamente.

A boa notícia é que entre janeiro e setembro deste ano o transplante de córnea quase dobrou no País. Somou 9.137 procedimentos, um crescimento de 90% em relação às 4.807 cirurgias realizadas no mesmo período de 2020. Segundo oftalmologista Dr. Leôncio Queiroz Neto, a queda no número de transplantes em 2020, somada à descontinuidade no acompanhamento oftalmológico da saúde ocular explica o aumento de 84% na fila de espera por córnea no país, apesar da retomada das cirurgias e captações este ano. Para se ter ideia, saltou de 10,8 mil em setembro de 2019 para 14,4 mil no mesmo mês de 2020 e 19.9 mil em 2021. No ranking da fila de espera os três estados com o maior número de pessoas aguardando pelo transplante são: São Paulo (3,5 mil), Minas Gerais (2,7 mil) e  Rio de Janeiro (2,6 mil). O especialista ressalta que neste cenário nunca foi tão importante manter o acompanhamento oftalmológico em dia. Isso porque, pode ocorrer uma nova onda da pandemia de Covid-19 e, um recente estudo publicado no JAMA, conceituado jornal da Associação Médica Americana, mostra que 55% das córneas de falecidos de Covid-19 carregam partes do vírus e por isso as captações podem diminuir.

Causa

O oftalmologista afirma que o ceratocone responde por 7 em cada 10 transplantes de córnea no Brasil. A estimativa do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) do qual o médico faz parte, é de que 100 mil brasileiros tenham a doença. O ceratocone enfraquece e afina a córnea, lente externa do olho que vai tomando o formato de um cone conforme progride. Geralmente surge na infância e adolescência. “No início pode ser confundido com astigmatismo. Isso porque, logo que surge pode ser corrigido com óculos, geralmente coexiste com astigmatismo e as duas alterações têm vários sintomas em comum: visão desfocada para perto e longe, fotofobia, ofuscamento e visão embaçada”, salienta o médico. A principal diferença é a troca mais frequente dos óculos no ceratocone, sobretudo entre crianças por conta da progressão mais acelerada durante a infância.

Os principais fatores de risco elencados pelo médico são:

  • Casos na família;
  • Algum tipo de alergia;
  • Síndrome de Down;
  • Olho seco;
  • Hábito de coçar os olhos;
  • Apnéia do sono;
  • Miopia e alta miopia.

Diagnóstico

Queiroz Neto afirma que na mulher o ceratocone pode ser descoberto durante a gravidez. Não quer dizer que a gestação cause a doença. “Significa que a maior retenção de água causada pelas mudanças hormonais altera a refração e pode piorar bastante a visão de gestantes”, comenta. Por isso, para quem têm astigmatismo ou convive com algum fator de risco, o médico recomenda incluir no planejamento da gestação a tomografia da córnea. Isso porque, o exame avalia milhares de pontos das duas faces da córnea e pode flagrar o ceratocone bem no início. “Já atendi pacientes que nem desconfiavam ter ceratocone e a tomografia permitiu o diagnóstico precoce”, afirma.

Tratamentos

O oftalmologista destaca que diversos estudos mostram que geralmente o ceratocone progride mais rápido até a idade de 25 anos. Hoje há tratamentos para impedir o transplante, mas devem seguir protocolos. Um deles é o crosslinking, único que interrompe a progressão do ceratocone em 90% dos casos. O especialista explica que o procedimento é ambulatorial e feito com anestesia local (colírio). Aumenta em até três vezes a resistência da reticulação da córnea. Consiste na aplicação de vitamina B2 (riboflavina) e luz ultravioleta na córnea. Em três dias as atividades podem ser retomadas. Queiroz Neto ressalta que o croslinking é contraindicado para córnea com espessura inferior a 400 micras, olhos com cicatrizes e outras alterações externas, portadores de glaucoma e histórico de herpes.

Outra terapia que pode evitar o transplante é o implante de anel intraestromal que aplana a córnea, deixa a lente mais estável no olho e melhora a visão. Para que tem muito desconforto no uso de lentes rígidas para corrigir o ceratocone a alternativa é a lente escleral que invés de ficar apoiada na córnea se apoia na esclera.

“Igual a todas as outras doenças, no ceratocone a prevenção continua sendo o melhor remédio, principalmente porque no transplante pode ocorrer rejeição”, conclui.

 

 

 

 

Fonte: assessoria de comunicação do Instituto Penido Burnier