29 de Abr de 2024
Mulheres que consideram fazer a cirurgia bariátrica precisam fazer uma suplementação alimentar apropriada antes de engravidarem. Segundo estudo publicado pelo oftalmologista Glen Gole do Royal Children's Hospital, na Austrália, a cirurgia de redução do estômago pode causar uma deficiência de vitamina A tão grave, capaz de tornar uma criança cega, antes mesmo do nascimento.

O estudo, "Malformação ocular em um recém-nascido secundária à hipovitaminose A materna", foi publicado na revista da Associação Americana de Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo. (Volume 14, Issue 3, Pages 274-276 (June 2010).    

Cole documentou o caso de uma mulher que realizou a cirurgia bariátrica sete anos antes de engravidar. Com apenas nove semanas de gravidez, a mãe foi diagnosticada com grave deficiência de vitaminas A, D, K e de ferro. Quando a criança nasceu, o bebê apresentava malformações significativas em ambos os olhos. E aos noves meses, uma eletrorretinografia revelou outra deficiência orgânica. Apesar do tratamento, a criança apresenta atualmente uma baixa de visão.

“O caso ilustra muito bem a importância da vitamina A para o desenvolvimento normal dos olhos do feto, especialmente para mulheres que desejam engravidar e se submeteram à cirurgia bariátrica”, destaca o oftalmologista Virgilio Centurion.

Em 2005, o Conselho Federal de Medicina aprovou a Resolução CFM N° 1.766, estabelecendo as normas seguras para o tratamento cirúrgico da obesidade mórbida, definindo indicações, técnicas cirúrgicas, condições hospitalares necessárias e a equipe de profissionais habilitados não só no procedimento cirúrgico em si, mas também na seleção de pacientes a serem operados, no seguimento pós-operatório e durante a vida destes pacientes.

A cirurgia para tratamento da obesidade, em suas várias técnicas, é chamada em linguagem médica de cirurgia bariátrica. Ela está indicada para os pacientes com obesidade grave, também chamada obesidade mórbida - pacientes com IMC = 40kg/m2, ou 35kg/m2 quando já apresentam complicações da obesidade.

Esse procedimento alcança uma perda de peso variável, na dependência da técnica utilizada e das características individuais dos pacientes, chegando a reduzir, segundo algumas estatísticas, de 68 a 78% do excesso de peso no primeiro ano na modalidade cirúrgica mais utilizada, a cirurgia de Capela.

Importância da vitamina A

Como cerca de 50% das cirurgias para tratamento da obesidade são realizadas em mulheres em idade fértil, muitas delas com grande dificuldade de engravidar - antes da cirurgia bariátrica - devido aos vários problemas causados pela obesidade que afetam a ovulação, é muito importante disseminar entre estas mulheres a informação que as técnicas classificadas como by pass desviam o alimento de importantes rotas absortivas e podem levar à deficiência de vários micronutrientes importantes para à saúde materno fetal.

“As deficiências nutricionais idealmente deveriam ser identificadas e tratadas antes da concepção. E durante a gestação, além da manutenção dos cuidados e suplementações já iniciados, há a necessidade de se intensificar as doses das vitaminas e minerais”, destaca a oftalmopediatra Maria José Carrari.

A vitamina A é um micronutriente essencial para diversos processos metabólicos, como a diferenciação celular, o ciclo visual, o crescimento, a reprodução e o sistema imunológico. “Apresenta especial importância durante os períodos de proliferação e rápida diferenciação celular, como na gestação, período neonatal e infância”, destaca a médica.

A deficiência de vitamina A, DVA, é uma doença nutricional grave e uma das mais frequentes causas de cegueira prevenível em crianças, além de contribuir para o aumento das mortes e doenças infecciosas na infância.

“A falta de vitamina A provoca a queratose - pele áspera e seca - e pode levar à xeroftalmia, cuja forma clínica mais precoce é a cegueira noturna, por meio da qual a criança não consegue boa adaptação visual em ambientes pouco iluminados. Uma das manifestações mais acentuadas da xeroftalmia é a mancha de Bilot”, explica a oftalmolpediatra.

Estima-se que 10 a 20% das gestantes sejam acometidas pela cegueira noturna, sintoma da deficiência de vitamina A, e que a mesma se associe com risco cinco vezes maior de mortalidade materna nos dois anos pós-parto.

“As gestantes com cegueira noturna e DVA também parecem estar mais predispostas às intercorrências e complicações gestacionais, tais como aborto espontâneo, anemia, pré-eclâmpsia, eclâmpsia, náuseas, vômitos, falta de apetite e infecções do trato urinário, reprodutivo e gastrointestinal. Neste contexto, a suplementação de gestantes que apresentam esta carência nutricional, vem cada vez mais, ganhando espaço durante a atenção pré-natal, especialmente entre as pacientes gastroplastizadas”, diz Maria José Carrari.





Fonte: JorNow